As pessoas que você convive são difíceis de entender o que se fala?
Você fala uma coisa e elas entendem outra?
Ouvem somente o que estão pensando que você vai dizer?
Muitos ouvem o que querem ouvir, não o que o outro está tentando dizer.
OUVIR é essencial, saber ouvir uma necessidade cada vez maior neste mundo onde todos querem ser ouvidos!
Há um ditado popular que diz termos dois ouvidos, e somente uma boca, pois devemos ouvir duas vezes mais do que falamos...
Mas saber ouvir envolve a humildade, a humildade de captar o que a outra pessoa está dizendo para nós!
E há que se ter humildade para poder entrar no universo do interlocutor, sem preconceitos, e absorver as suas palavras, recheadas dos seus sentimentos únicos, da sua vivência ímpar.
Fala-se tanto em diálogo, em problemas de comunicação, como se dialogar fosse apenas falar o que se pensa para o outro.
Entretanto, para que haja um contato autêntico e produtivo dentro de uma relação, falar o que se pensa e acha não é suficiente.
É ter o respeito em se procurar entender o pensar de quem está a se expressar.
O silêncio inerente ao ouvir é sábio, nestes momentos.
E o ouvir nasce do silêncio. É preciso quietude, introspecção, é preciso esvaziar a mente, para deixar entrar o que vem do outro.
É não responder pelo outro.
Quem sabe o que o outro vai falar, não está ouvindo o outro e sim a si mesmo.
Ouvir é não discutir internamente o que está sendo falado. Ouvir é situar-se no lugar de quem está a falar.
É ter certeza que ouviu o que o outro tá falando, e não o que você pensa que ele vai falar.
Quem gosta de cortar o que o outro tá falando, tem a pretensão de ser adivinho.
E quem é adivinho, acha que sabe tudo.
Por isso, Saber ouvir é um ato de humildade.
Mais uma vez, socorro-me do Mestre Artur da Távola e esse magnífico estudo sobre ouvir e saber ouvir. Leia abaixo.
O Difícil Facilitário do Verbo Ouvir
Artur da Távola
Um dos maiores problemas de comunicação, tanto a de massas como a interpessoal, é o de como o receptor, ou seja, o outro, ouve o que o emissor, ou seja, a pessoa, falou.
Numa mesma cena de telenovela, notícia de telejornal ou num simples papo ou discussão, observo que a mesma frase permite diferentes níveis de entendimento.
Na conversação dá-se o mesmo. Raras, raríssimas, são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que a outra está dizendo.
Diante desse quadro venho desenvolvendo uma série de observações e como ando bastante entusiasmado com a formulação delas, divido-as com o competente leitorado que, por certo, me ajudará passando-me as pesquisas que tenha a respeito.
Observe que:
1) Em geral o receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que o outro não está dizendo.
2) O receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que quer ouvir.
3) O receptor não ouve o que o outro fala. Ele ouve o que já escutara antes e coloca o que o outro está falando naquilo que se acostumou a ouvir.
4) O receptor não ouve o que o outro fala. Ele ouve o que imagina que o outro ia falar.
5) Numa discussão, em geral, os discutidores não ouvem o que o outro está falando. Eles ouvem quase que só o que estão pensando para dizer em seguida.
6) O receptor não ouve o que o outro fala, Ele ouve o que gostaria ou de ouvir ou que o outro dissesse.
7) A pessoa não ouve o que a outra fala. Ela ouve o que está sentindo.
8) A pessoa não ouve o que a outra fala. Ela ouve o que já pensava a respeito daquilo que a outra está falando.
9) A pessoa não ouve o que a outra está falando. Ela retira da fala da outra apenas as partes que tenham a ver com ela e a emocionem, agradem ou molestem.
10) A pessoa não ouve o que a outra está falando. Ouve o que confirme ou rejeite o seu próprio pensamento. Vale dizer, ela transforma o que a outra está falando em objeto de concordância ou discordância.
11) A pessoa não ouve o que a outra está falando: ouve o que possa se adaptar ao impulso de amor, raiva ou ódio que já sentia pela outra.
12) A pessoa não ouve o que a outra fala. Ouve da fala dela apenas aqueles pontos que possam fazer sentido para as idéias e pontos de vista que no momento a estejam influenciando ou tocando mais diretamente.
Esses doze pontos mostram como é raro e difícil conversar. Como é raro e difícil se comunicar! O que há, em geral, são monólogos simultâneos trocados à guisa de conversa, ou são monólogos paralelos, à guisa de diálogo. O próprio diálogo pode haver sem que, necessariamente, haja comunicação. Pode haver até um conhecimento a dois sem que necessariamente haja comunicação. Esta só se dá quando ambos os pólos ouvem-se, não, é claro, no sentido material de "escutar", mas no sentido de procurar compreender em sua extensão e profundidade o que o outro está dizendo.
Ouvir, portanto, é muito raro. É necessário limpar a mente de todos os ruídos e interferências do próprio pensamento durante a fala alheia.
Ouvir implica uma entrega ao outro, uma diluição nele. Daí a dificuldade de as pessoas inteligentes efetivamente ouvirem. A sua inteligência em funcionamento permanente, o seu hábito de pensar, avaliar, julgar e analisar tudo interferem como um ruído na plena recepção daquilo que o outro está falando.
Não é só a inteligência a atrapalhar a plena audiência. Outros elementos perturbam o ato de ouvir. Um deles é o mecanismo de defesa.
Há pessoas que se defendem de ouvir o que as outras estão dizendo, por verdadeiro pavor inconsciente de se perderem a si mesmas.
Elas precisam "não ouvir" porque "não ouvindo" livram-se da retificação dos próprios pontos de vista, da aceitação de realidades diferentes das próprias, de verdades idem, e assim por diante. Livram-se do novo, que é saúde, mas as apavora.
Não é, pois, um sólido mecanismo de defesa.
Há pessoas que se defendem de ouvir o que as outras estão dizendo, por verdadeiro pavor inconsciente de se perderem a si mesmas.
Elas precisam "não ouvir" porque "não ouvindo" livram-se da retificação dos próprios pontos de vista, da aceitação de realidades diferentes das próprias, de verdades idem, e assim por diante. Livram-se do novo, que é saúde, mas as apavora.
Não é, pois, um sólido mecanismo de defesa.
Ouvir é um grande desafio. Desafia de abertura interior; de impulso na direção do próximo, de comunhão com ele, de aceitação dele como é e como pensa. Ouvir é proeza, ouvir é raridade. Ouvir é ato de sabedoria.
Depois que a pessoa aprende a ouvir ela passa a fazer descobertas incríveis escondidas ou patentes em tudo aquilo que os outros estão dizendo a propósito de falar.
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